Consultoria de Impacto

Natalidade humana x natalidade tecnológica

As manifestações no Brasil, na Europa e outras a caminho, com maior ou menor peso dos problemas políticos, terão nos bastidores um quadro amplo e complexo:
Natalidade humana x natalidade tecnológica.
Desde a década de 90, quando a tecnologia digital se consolidou e entrou em expansão mundo afora, as alterações nos ambientes social e profissional ocorrem na velocidade da fibra ótica.
A máquina ocupar o espaço do homem, não é novidade. O primeiro histórico impacto ocorreu na Revolução Industrial. A máquina a vapor passou a absorver várias funções humanas no processo de produção. Foi, também, a primeira sonora e formal reação. Em 1812, os chamados Luditas incentivavam a luta contra as máquinas:
- Elas roubam nosso trabalho e diminuem os nossos salários!
Surgiram protestos, políticos sob pressão, reuniões extras e novas leis.
Hoje, temos fato igual, porém, de dimensão extremamente superior. Aquelas máquinas absorviam funções humanas de forma gradual e limitada. Havia longo tempo para invenção, desenvolvimento, e quando entravam em operação, dependiam da mão do homem até a produção final. O início, meio e fim de um trabalho, estivesse ele no setor indústria, serviço, agrícola ou outro, ainda agregava número expressivo de profissionais de diversas classes e qualificações.
Existiam também condições para acomodação por causa das circunstâncias sociais: mulheres não trabalhavam, jovens demoravam a disputar vagas, idosos se aposentavam e paravam. Ou seja, as máquinas não roubavam todo trabalho, não diminuíam tanto os salários, ainda abriam bons espaços para emprego e evolução profissional. Outro fator: natalidade não influenciava no contexto.
A tecnologia digital traz o segundo impacto na relação homem-máquina, que é de atômica potência e complexo: rouba o trabalho, encerra inúmeras especialidades e achata salários. A natalidade tem um “acumulado” alto, começa a cair em progressão aritmética, porém, esta tecnologia devora espaços em progressão geométrica, com uma característica preocupante: é solucionadora. Ela faz o início-meio-fim de uma tarefa ou produção com número irrisório de pessoas. O que ele tira é incomparável em relação ao que ela cria de novas vagas.
Surge, então, um ambiente que estimula as pessoas à participação em protestos no Brasil e Europa:
Cada vez maior o número de pessoas no mercado (jovens iniciam cedo, velhos param mais tarde e mulheres ocupam 50% dos espaços), a tecnologia tem baixo custo (resolve sem cobrar montanha de impostos, sem “chegar atrasada”, “sem férias, problemas de saúde, trânsito”...), soluciona o que teria necessidade de até centenas de pessoas (softs de administração, robôs nas indústrias, ensino virtual, e.commerce, catracas, self-service em lojas e restaurantes), possibilita acesso geral (competição e fatias de lucro apertadíssimas) e sexo livre (gente mais cedo no mundo e na busca por vagas).
Ao redor, pressão por consumo de produtos-serviços lançados por minuto para seduzir pessoas que não conseguem aumentar renda ou perspectivas para saciá-lo, mesmo que em 20 prestações... Daí, 42% dos brasileiros estão endividados.
Assim, a agressiva automação esvazia a empregabilidade: em 1997 montava-se o dobro de carros com 1/3 dos operários em relação a 1967; caminhão-trator de recapeamento asfáltico sozinho arranca, recolhe e joga placas na carroceria; um músico reproduz uma banda ou orquestra; cada colheitadeira dispensa 100 trabalhadores rurais por turno; pequeno caixa eletrônico é um banco inteiro, e-mail e self-service cortaram para menos da metade auxiliares de escritório, comerciários e garçons.
Um dos reflexos são os números dos concursos: 385.124 inscritos para 1.200 vagas de garis; 340.000 para 700 vagas de auditor da Receita; 15.000 para 125 vagas de trainees; 5 sites de empregos com 10 milhões de currículos; em dois dias, 561 currículos já disputavam 01 vaga para Diretor Executivo (LinkedIn).
A redatora de Economia de O Globo, Cássia Almeida, fez sintomáticas reportagens: ”Aumenta procura de emprego por quem já trabalha” (2002); ”Sem emprego, sem esperança: 2,7 milhões desistem de buscar recolocação” (2006).
Portanto, do gari ao executivo, em especial faixa jovem, milhares vão para concursos porque o mercado não absorve, não há empregabilidade que viabilize melhor renda, perspectivas e segurança profissional.
Este ambiente desencadeia ansiedade-frustração-depressão-revolta, joga pessoas em terapias, conflitos em família, em empresas e agora estimula o extravasamento nas ruas. Vale para o Brasil, Europa... é factual, mundial.
Porém, aqui ainda temos porta aberta para superação: há muito o que fazer (estradas, portos, usinas, hospitais, aeroportos etc), ironicamente, a nossa miséria é a nossa salvação; lá fora está tudo pronto.
A Presidente, Dilma Roussef, está certa: investir na educação e cortar impostos. O governo precisa capacitar a população para ser competitiva diante das oportunidades da economia aquecida e do impacto tecnológico. Reduzir impostos, apoiar indústria com bloqueios aos importados e motivar planejamento familiar. Assim como há um ambiente que desencadeia as manifestações, a Presidente deve criar um ambiente que desencadeie as soluções.

José Renato de Miranda
rdemiranda@consultoriadeimpacto.com.br 
www.consultoriadeimpacto.com.br / www.empresafamiliarconsultoria.com.br

 

 

 

 

 

 

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